IGREJA OU RESTAURANTE?

(Pr. Roberto Ramos da Silva)

ARTIGO

8/15/20255 min ler

IGREJA OU RESTAURANTE?

(Pr. Roberto Ramos da Silva)

“Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra.” (Atos 1:8)

No texto acima, o Senhor deixou claro a seus discípulos que, a partir da descida do Espírito Santo, eles receberiam poder — o poder do próprio Senhor. Mas com que propósito receberiam tal poder? Para testemunhar, para anunciar o Reino de Deus até que Ele volte. A Bíblia não deixa a menor dúvida disso.

Em Mateus 28:18-20, o Senhor deixa bastante claro:

“É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.”

Ele é quem tem todo o poder — e não nós, seus servos —, e Ele coloca esse poder à disposição de seus discípulos, a fim de que anunciem o Reino, expandam o Reino por todo o mundo, façam discípulos. Esse é o mandamento de Jesus para seus seguidores.

Mas a triste realidade que temos observado neste século XXI, século da pós-modernidade, é que não poucos cristãos almejam o poder de Cristo para expandirem não o Reino de Deus, mas seus próprios “reinos” particulares. E o resultado disso tem se refletido na vida de muitas igrejas e de muitos membros de igreja.

Muitas igrejas ditas cristãs têm deixado de ser agências de expansão do Reino de Deus e se tornado agências de expansão do “reino” do pastor, do bispo, do apóstolo, do missionário fulano de tal.

Na esteira dessa distorção, temos visto o surgimento de uma nova classe de igrejas e de membros de igrejas. Hoje, é cada vez maior o surgimento de igrejas que em nada se parecem com o Corpo de Cristo, mas sim com estabelecimentos comerciais — tipo restaurantes. Muitas igrejas estão realmente muito longe de serem igrejas de Cristo, e são verdadeiros “restaurantes” ou “igrejas/restaurantes”.

Quais são as marcas da “igreja/restaurante”?

Em primeiro lugar, ela é composta por “membros/clientes”. No restaurante, o cliente vai lá para se alimentar e ser servido. Membros/clientes fazem o mesmo nas igrejas/restaurantes: vão semanalmente ao estabelecimento “gastro-eclesiástico” para se alimentarem e serem servidos pelos “líderes/garçons” de “sua” igreja/restaurante.

O pastor, como chef da cozinha, é o responsável pelo prato que o membro/cliente irá consumir. Ele precisa sempre inventar novos pratos, variar o tempero, dar um toque especial no alimento a cada semana — senão, o cliente/membro irá reclamar. E isso é um problema, porque é o cliente quem paga a conta. Seu dízimo e suas ofertas o “habilitam” a sempre ter razão em sua igreja/restaurante, porque essa é a lei áurea do comércio e do capitalismo.

Na igreja/restaurante, o pastor/chef tem sempre que procurar agradar o cliente. Caso contrário, corre o risco de esse cliente/membro procurar outro restaurante/igreja para se alimentar.

Outra marca da igreja/restaurante é que a música deve ser tocada por profissionais altamente qualificados, para atrair mais clientes.
— “A música ao vivo é boa?” — pergunta um cliente antes de visitar uma nova igreja/restaurante.

A música, nesse modelo, não é instrumento de louvor e adoração a Deus, mas uma atração para manter a clientela ou atrair novos clientes.

Há também os membros/clientes que querem saber quais atrações o restaurante/igreja oferece para seus filhos:
— “Afinal, meus filhos, assim como eu, precisam ser bem alimentados e bem servidos.”

Se o restaurante/igreja que estou frequentando não tem boas atrações para mim e para minha família, a solução é procurar outro restaurante mais adequado e que me sirva melhor. Afinal, sou CLIENTE, não sou discípulo de um Mestre que ensinou “baboseiras” do tipo:

“Eu vim para servir, e não para ser servido.” (Mc 10:45)

O lema do membro/cliente é justamente o contrário:

“EU VIM PARA SER SERVIDO...”

A igreja/restaurante do século XXI tem se caracterizado por algo muito comum nos bons restaurantes: a carne não é nada fraca. Muito pelo contrário, é fortíssima. Em todo restaurante que se preze, a carne ocupa lugar de destaque — é sempre o prato principal. Seja de gado, frango, peixe ou outro animal, a carne reina nos cardápios e é, normalmente, o prato mais caro.

Nas igrejas/restaurantes, não é diferente: quem domina o espetáculo é a carne. A carne reina sobre toda e qualquer outra atração do farto cardápio. Os membros/clientes se deliciam com ela, e quanto mais carne, melhor. Aliás, quando o assunto é carne, há igrejas que são verdadeiras churrascarias rodízio, com todo tipo de shows e atrações para entreter e atrair mais clientes. Tudo na carne. Muita carne.

Muitos pastores dessas igrejas/restaurantes também assumem a função de gerentes, e precisam se preocupar se o cliente/membro está satisfeito: se não falta nada em sua mesa, se a comida está do agrado, se os líderes/garçons estão servindo direitinho, se a conta está sendo paga em dia...

Na igreja/restaurante do século XXI, há também o cliente eternamente insatisfeito, que, por conta disso, muda de restaurante regularmente. Em um, a comida não é boa; em outro, a música é fraca; em outro, o líder/garçom de determinado ministério não presta; ou os outros clientes são antipáticos. Esses membros/clientes não se satisfazem nunca — em restaurante nenhum.

Como o cliente sempre tem razão, é também muito comum esses clientes entupirem a “caixa de reclamações” com suas queixas, desgostos e lamentações. Só que, nesse caso, a caixa de reclamações são os ouvidos dos outros clientes, dos líderes/garçons, dos pastores/gerentes/chefs etc.

É muito comum também o membro/cliente insatisfeito contaminar outros clientes, fazendo comparações entre “seu” restaurante e outros:
— “O restaurante/igreja do meu tio é muito melhor. Lá eles mudam de chef regularmente, para sempre terem um novo tempero. Quando se cansam do tempero de um chef, mandam ele embora e contratam outro. Às vezes dá errado, porque o novo chef tem um tempero pior, mas, como são os clientes que pagam a conta, eles reclamam até conseguirem que o novo chef seja demitido e contratado outro, mais a contento.”

Outra característica de muitas igrejas/restaurantes é que possuem uma área VIP para os clientes/membros especiais. Esses geralmente são os que frequentam o restaurante desde sua inauguração e/ou contribuem com muito dinheiro. Esses clientes VIPs amam ser bajulados. Para se sentirem bem, precisam estar sempre sendo notados, citados, com seus egos acariciados.

E, se por acaso, surge um novo “gerente” que resolve acabar com a área VIP, isso é considerado uma afronta pessoal, um absurdo, uma verdadeira heresia. Afinal, esse cliente/membro sempre foi VIP durante toda a existência daquela igreja/restaurante — e agora chega um gerente/pastor novo querendo acabar com seu “direito adquirido” pelos anos de cliente/consumidor.

Na realidade, o cliente VIP se considera um dos donos do restaurante, ou, no mínimo, sócio majoritário.

Enfim, são tantas as características das igrejas/restaurantes do século XXI que poderíamos escrever muitas páginas sobre isso. Mas esse triste diagnóstico tem como objetivo maior desafiá-lo a estabelecer um relacionamento com Cristo, baseado na submissão àquele que tem todo o poder no céu e na terra, e que colocou esse poder à sua disposição para que você seja um instrumento de expansão do Reino de Deus, onde quer que esteja.